Matéria elaborada por José Florentino | Valor Econômico
Quase 10% dos responsáveis pela gestão de grandes fazendas do Brasil não sabem o que é governança, e 15% ainda não reconhecem a importância do tema para o bom andamento dos negócios.
Os números aparecem em um estudo feito em parceria entre a KPMG e o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e para o qual foram ouvidos representantes de 367 propriedades. Metade delas tem faturamento anual de mais de R$ 20 milhões.
Aproximadamente um terço dos entrevistados alegam que faltam informações e referências adequadas ou dizem ter medo de gerar burocracia e custos. Outros 12% afirmam que não sabem sequer como implementar um modelo de gestão mais sólido.
Chama atenção que o perfil de quem está à frente desses negócios é predominantemente de pessoas com ensino superior ou pós-graduação.
“Falta ao mercado adequar a linguagem e o conteúdo ao setor. Não é que os produtores não queiram evoluir, eles querem, e isso nos surpreendeu positivamente”, disse Luiz Martha, gerente de Pesquisa e Conteúdo do IBGC, citando que 85% da amostra reconhece a importância da governança.
Empresas familiares
O entrave não é exclusividade do agronegócio, segundo Luiz Martha. De forma geral, empresas familiares, caso de 80% da amostra da pesquisa, são criadas por uma pessoa e precisam se adaptar à medida que o quadro societário cresce. “Aprender a dividir as decisões e formalizar essas estruturas faz parte do amadurecimento”, afirmou o gerente.
A pesquisa de KPMG e IBGC mostra que essa mudança de mentalidade ainda está em curso: mesmo que 79% dos empreendimentos tenham reuniões entre os membros de diretoria e conselho, em 47% dos casos as decisões acabam sendo tomadas pelo sócio majoritário.
Além disso, apenas 38% dos entrevistados declararam ter um acordo de sócios aprovado e que é respeitado por todos.
Segundo Giovana Araújo, sócia de agronegócio da KPMG, a necessidade de acessar novas fontes de financiamento deve acelerar a adoção de governança na agropecuária. Perspectiva de futuro à parte, por enquanto, 23% das propriedades consultadas não prestam contas aos sócios, e em 24% isso é feito de maneira informal.
Conselhos
Dentre os empreendimentos familiares, apenas 29% possuem conselhos de família. Luiz Martha afirma ser necessário criar estruturas para separar assuntos particulares e profissionais, sob risco de comprometer o funcionamento das propriedades.
Além disso, nas propriedades que possuem conselho de família, a pesquisa mostra que é mais fácil implementar programas de treinamento voltados a processos de sucessão, que são, para 54% dos entrevistados, o principal desafio em termos de governança.
Capacitação
Outros especialistas também vêm detectando pontos a serem melhorados na gestão das empresas do agronegócio, incluindo também as corporações que atuam antes e depois da porteira.
Em entrevista recente ao Valor, a gestora de mudanças da Gateware, Lucia Teles, estimou que nem 0,50% dos investimentos feitos por empresas do setor são focados no desenvolvimento dos funcionários. “Isso nas grandes empresas. Nas menores, é ainda menos significativo. Quase não há pessoas olhando apenas para capacitação”, disse.
Ela salienta que profissionais mal preparados não extraem o máximo dos recursos. A gestora da Gateware disse que há poucos profissionais capacitados para lidar com os desafios da agricultura do futuro, cada vez mais digitalizados. “Se a abordagem não mudar, estudos mostram que a situação deve se estender pela próxima década”.
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