Entre chamadas de vídeo, mensagens e curtas visitas é que se mantém a relação de pais, filhos e filhas que não vivem perto um do outro. Com a distância, muitas vezes, o que resta são vídeos engraçados nas redes sociais, ou os famosos “bom dia, filhote”. A internet, é claro, ajuda no processo de mitigar a saudade, mas nem sempre é o suficiente para quem já se acostumou a “chegar em casa e encontrar o abraço de urso de pai”.
Luíza Alcântara é uma dessas filhas que vivem longe do pai. Aos 18 anos, a curitibana se mudou para Foz do Iguaçu — onde já estavam seu irmão e sua mãe — para cursar Direito na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Em maio, então, a estudante deixou o pai na capital paranaense e foi viver em outra cidade. De início, ela diz, não foi tão difícil, mas agora a saudade já começa a apertar.
“É muita novidade, nova cidade e muita coisa pra fazer, e mesmo fazendo muita falta, a gente sabe que mudanças fazem parte, né… mas em Curitiba eu passava a maior parte do tempo com o meu pai e com os nossos cachorros”, conta Luíza.
O que a estudante tenta fazer para se que a distância fique menor é usar as chamadas de vídeos para conversar com o pai. “Com a internet a gente consegue se comunicar melhor. A gente pode se ver, rir junto, pedir conselho… é tudo mais fácil. Todo dia a gente tá em ligação”, comenta.
Em 2021, análise da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostrou que 95,7% dos brasileiros utilizavam a internet para chamadas de vídeo ou voz. O número, inclusive, superou a porcentagem de pessoas que utilizam para mandar mensagem de texto, voz ou imagens, 94,9%.
Evidentemente, a pandemia da Covid-19 afetou os resultados da pesquisa, mas fato é que, para quem vive à distância, as tais chamadas ajudam — embora, de forma alguma, substituam.
Felipe Alcântara, o irmão de Luíza que tem 13 anos, também conta que é difícil se acostumar com a distância. Ele, que já estava em Foz antes da sua irmã, liga para o pai todos os dias e diz que sente muita falta de jogar basquete em dupla. “É muito difícil se acostumar, porque ele é muito importante… não substituem, mas acho que as chamadas de vídeo ajudam bastante.”
Outro filho que deixou o pai para estudar em outra cidade foi Thomas Naves. O estudante de 21 anos, que morava em Taubaté, no interior de São Paulo, veio para Curitiba cursar Engenharia Civil na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Thomas conta que, quando mais novo, também passou um tempo longe do pai, que trabalhava em outra cidade e voltava aos fins de semana. Desde lá, e depois, quando se mudou, a distância sempre foi difícil.
“Pode parecer redundante, mas o que eu mais sinto falta é da presença dele mesmo. Ele é muito carinhoso, muito parceiro. Sinto falta dos conselhos, dicas, ensinamentos de vida. Ele sempre fez de tudo para que eu tivesse uma vida confortável, feliz…”, relata o universitário..
Thomas conta que, às vezes, tenta pensar em como seria se vivesse em outra época, sem internet e tecnologias que ajudam no contato. “Não sei se eu teria as mesmas reações… a internet facilita porque a gente fica sabendo quase que em tempo real se a pessoa está bem.”
No Brasil, 80% dos domicílios têm acesso à internet, segundo dados da pesquisa TIC Domicílios 2022, realizada pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Em números absolutos, isso significa que são 60 milhões de casas no país que estão conectadas, a maioria por fibra óptica ou cabo e rede móvel 3G/4G.
A internet também aproxima
Outra facilidade da internet é o home office, que ajuda algumas famílias a estreitar os laços. Marcelo Jandre, que é Analista ETL, é pai de primeira viagem e tem a oportunidade de ficar mais perto do filho graças a tecnologia. O tempo que ficaria em deslocamentos no trânsito é otimizado para ficar com o bebê. Quando acorda, ele é o responsável por cuidar do filho..
“A possibilidade de fazer home office contribuiu para um sonho que estou realizando, de ser pai e com mais tempo de qualidade com meu filho. O bebê foi planejado e muito esperado, e agora acompanhar cada momento tem sido recompensador”, conta o profissional.
O relato de Marcelo não é comum no Brasil, onde muitos vivem sem a presença ou cuidado do pai. Cerca de 5,5 milhões de crianças não têm o nome do pai registrado na certidão de nascimento, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
“Penso nessas questões e, por isso, faço de tudo para ser o mais presente possível para meu filho. Quero que ele me veja, sim, como herói, porque eu vou estar do lado dele nos momentos felizes e tristes, ensinando tudo que sei”, reflete.
Marcelo e a esposa se preparam muito para a chegada do neném, inclusive para as noites em claro. Para ele, a paternidade não foi surpresa e é um verdadeiro presente. “Tenho a missão de educar uma vida e quero que ele seja um exemplo de ser humano, sempre próximo dos seus pais.”
Enquanto os filhos vão, eles ficam
Gilvando Calixto, 59 anos, é o pai de Thomas e mais dois filhos, que também vivem em outras cidades. Consultor de finanças, ele conta que nenhum pai gosta de ficar longe. Quando o filho mais novo foi estudar, a ideia de perder o “bebê” da família não foi tão agradável. “A princípio não gostei muito da ideia, mas ele precisava crescer, ser independente e buscar seus ideais, e eu tinha que aceitar a ideia de tê-lo longe por um tempo”, conta.
Gilvando também diz que, “como apenas alguns quilômetros separam”, ele e Thomas tentam manter contato, quase que diário, e fazem visitas, quando possível. Do filho mais novo, o consultor sente falta do carinho e amizade. Os dois costumavam fazer muitas coisas juntos, apreciavam lugares, carros.
“Meus filhos são muito especiais para mim. Pai é um ser ‘bobo’ que se dedica o tempo inteiro aos filhos, levando amor, carinho e sempre se preocupando com a formação pessoal e acadêmica. Como pai, me sinto um homem realizado”, finaliza Gilvando.
Christian Alcântara é o pai que ficou em Curitiba enquanto os filhos se mudaram para Foz. Christian, que é professor na UFPR, diz que o início foi bem difícil, especialmente aos fim de semana. “Sinto muita falta das rotinas. Lanchar junto, conversar sobre os fatos do dia, ver TV juntos no sofá.”
“A paternidade é uma grande responsabilidade, mas também uma grande paixão. As chamadas só atenuam a saudade e a distância”, pontua.
A saudade aperta e o amor permanece
Mesmo com todas as facilidades, nada substitui o contato. Luíza, por exemplo, se lembra do que mais sente saudade. “Sinto muita falta dos abraços… isso nenhuma tecnologia faz. Ajuda, é verdade, mas eu ainda não me acostumei, pra ser sincera. Às vezes dá vontade de entrar dentro do celular”, conta, emocionada.
“Seja na mesma casa ou à 500km de distância, o meu pai não deixa de ser o melhor do mundo. A internet ajuda muito, mas às vezes a gente só quer chegar em casa e ter o ‘abraço de urso’ do nosso pai”, finaliza Luíza.
Thomas também se lembra do pai e da data especial com muito carinho. “Mesmo distante ele se esforça muito para me ajudar. Infelizmente, nesse dia dos pais a gente não vai estar junto… é difícil colocar em palavras, o amo muito. Ele me ensinou a verdadeiramente amar as pessoas, se entregar à família. É algo que eu quero levar quando for pai também”, diz emocionado.
Segundo Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, da Infância e Adolescência, supervisora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria); para a criança, a participação ativa do pai na vida de um filho é essencial para seu desenvolvimento cognitivo, social e psíquico. “Na infância, os pais são as primeiras e mais importantes referências”
Matéria elaborada pela Smartcom e publicada no portal Bem Paraná.
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