Num mercado de trabalho cada vez mais competitivo, muitos profissionais sentem que chegaram a um platô: dominam linguagens, frameworks e ferramentas, mas não avançam na carreira, não ganham visibilidade ou não conseguem ser reconhecidos além de suas competências básicas.
Esse cenário é muito comum. Quando o mercado tem abundância de profissionais e várias pessoas têm níveis técnicos similares, não basta apenas o “saber fazer”. O “quem você é e o que mais pode trazer” passa a ser levado em consideração.
É nesse ponto que entra o conceito de Mad Skills, habilidades que transcendem o domínio técnico e comportamental, são mais pessoais, não convencionais, mas que podem fazer a diferença na forma como você é percebido e valorizado.
A seguir, vamos conversar sobre a importância dessas habilidades e, ao final, você sairá com clareza sobre como utilizar as Mad Skills para alavancar sua carreira.
Confira a seguir
Hard Skills, Soft Skills e Mad Skills
Antes de nos aprofundarmos no tema deste conteúdo, vamos posicionar as Mad Skills em relação às outras duas categorias que você provavelmente já ouviu falar bastante por aí.
Hard Skills
- São habilidades técnicas ou específicas de uma ocupação, como linguagens de programação, arquitetura de software, bancos de dados, cloud, frameworks, metodologias ágeis etc.
- Podem ser aprendidas, medidas, certificadas e demonstradas com projetos concretos.
- São muitas vezes requisitos básicos para entrar na área ou em cargos técnicos mais avançados.
Soft Skills
- São habilidades comportamentais e relacionais, como comunicação, empatia, colaboração, escuta ativa, adaptabilidade, resiliência, liderança, pensamento crítico e autogerenciamento.
- Mais difíceis de mensurar objetivamente, mas muito valorizadas em ambientes de equipe, mudança constante, projetos colaborativos e liderança.
- Soft Skills ajudam a tornar seu trabalho mais eficaz, sobretudo em contextos em que o “saber técnico” por si não é o suficiente.
Mad Skills (habilidades fora de série)
- São habilidades ou talentos que geralmente não surgem no escopo do trabalho nem nos requisitos “oficiais” da vaga, mas que emergem de atividades pessoais, hobbies, interesses não convencionais ou experiências de vida.
- É algo que vai além do esperado, que surpreende ou agrega uma camada diferenciada ao profissional.
- Podem trazer perspectivas criativas, visão inusitada, repertórios além do lugar comum.
- Muitas Mad Skills estão próximas às Soft Skills, mas com um tom mais singular. Por exemplo, não apenas “comunicação” (Soft Skill), mas a fluência em improvisação teatral (Mad Skill), que traduz uma comunicação criativa, espontânea e contundente.
Em resumo: Hard Skills são insumos técnicos, Soft Skills são como você opera com pessoas e desafios, e Mad Skills são aquilo que torna você único e inesperado.
Por que as Mad Skills estão em alta?
Você pode estar se perguntando: “Por que minhas paixões e interesses pessoais importam tanto para as empresas agora?” A resposta está nos objetivos que recrutadores e gestores almejam hoje e nas mudanças no mundo do trabalho. Alguns pontos que explicam essa valorização são:
- Saturação técnica: quando muitos candidatos dominam a mesma stack ou certificação, a disputa deixa de ser técnica e passa a ser por personalidade, perfil e diferenciais menos tangíveis. Mad Skills permitem criar distinção quando o “nível técnico” se aproxima entre os candidatos.
- Complexidade, mudança e inovação: as empresas enfrentam problemas novos, exigem inovação, adaptabilidade e mentalidade de “pensar fora da caixa”, e profissionais com repertório diverso (artístico, esportivo, cultural) tendem a oferecer soluções inesperadas. Em ambientes em constante transformação, quem consegue cruzar referências e trazer novos olhares é mais valioso.
- Cultura do capital humano: empresas estão mais atentas em oferecer ambientes que considerem o indivíduo como pessoa completa, não apenas como “máquina de produção”. Profissionais com Mad Skills bem trabalhadas tendem a estar mais engajados, com maior equilíbrio, o que favorece retenção, inovação e saúde organizacional.
Exemplos de Mad Skills
Provavelmente, a dúvida que você tem agora é: “Ok, mas qual das minhas habilidades pode ser considerada como uma Mad Skill?” Na tabela a seguir, você encontra alguns exemplos mais comuns e como eles podem oferecer conexões reais com o ambiente profissional.
Nem todos os exemplos cairão bem no seu contexto ou perfil, mas você vai perceber o quão diversas e enriquecedoras podem ser essas experiências.
Mad Skill (atividade ou interesse) | Competências “ocultas” que podem emergir | Aplicações práticas em TI / outras áreas |
Tocar instrumento musical | Disciplina, sensibilidade, coordenação, paciência | Em projetos de UI/UX, pode ajudar na estética sonora; em brainstorms criativos |
Teatro / improvisação | Oratória espontânea, criatividade, empatia, presença de palco | Em apresentações, entrevistas técnicas ou debates internos |
Fotografia / vídeo | Olhar (composição), atenção a detalhes, enquadramento | Em design visual, marketing, documentação de projetos |
Esportes (corrida, futebol, escalada) | Resiliência, foco, planejamento, superação de limites | Em prazos apertados, sprints, ritmo sustentável de trabalho |
Voluntariado | Empatia, liderança, coordenação de pessoas | Projetos sociais, iniciativas de cultura, mentorias internas |
Aprender idiomas ou imersão cultural | Adaptabilidade, abertura a pluralidade, comunicação | Equipes internacionais ou projetos multilingues |
Hobbies manuais (marcenaria, jardinagem, cerâmica) | Atenção aos detalhes, paciência, processo iterativo | Prototipagem, hardware, UX tangível |
Jogos estratégicos / xadrez / RPG | Pensamento estratégico, planejamento, antecipação de cenários | Arquitetura de sistemas, estratégia de produto |
Blogging / escrita criativa | Organização de ideias, domínio da linguagem, persuasão | Documentação técnica, comunicação com usuários, blog técnico |
Viagens intensas / morar fora | Resiliência, adaptação, lidar com incertezas | Projetos fora de padrão, mudanças culturais, trabalho remoto |
Esses exemplos são meramente ilustrativos, mas ajudam a ver que quase qualquer atividade bem cultivada pode se transformar em um diferencial, o que importa é reconhecer a competência subjacente e relacioná-la ao contexto profissional.
Como identificar suas Mad Skills
Reconhecer suas Mad Skills requer reflexão. Provavelmente, você já as pratica, mas não as enxerga com os “óculos profissionais”. Seguindo os passos a seguir, você será capaz de descobrir quais são.
1. Faça um mapeamento pessoal
Liste seus hobbies, atividades extracurriculares, interesses culturais e pessoais (mesmo os considerados sem relação com trabalho).
Para cada atividade, anote o que você teve que fazer para progredir, como disciplina, estudo, superação, processos.
Pergunte-se: em que momentos durante essas atividades eu me destaquei ou recebi elogios?
2. Peça feedback externo
Converse com amigos, colegas, professores, mentores, e pergunte que as características que eles acham que te marcam em determinada atividade. Às vezes, os outros veem o diferencial com mais clareza do que você mesmo.
3. Relembre histórias de superação ou conquista
Pense em situações difíceis dentro desses hobbies e como você lidou, reagiu ou resolveu esse cenário. Muitas Mad Skills emergem quando uma adversidade exige comportamento fora do comum.
4. Teste e observe
Se expor é o melhor caminho para descobrir uma Mad Skill. Faça um workshop de teatro, participe de um clube de fotografia, entre numa equipe de voluntariado. Observe como essas atividades repercutem em seu cotidiano profissional, que insights, mudanças de olhar ou habilidade trazem.
5. Priorize aquelas com potencial de aplicação
Nem toda Mad Skill será relevante ao seu contexto profissional imediato. Avalie, para cada habilidade mapeada, quais capacidades ela revela (criatividade, comunicação, resiliência, pensamento estratégico, improviso etc.) e como isso pode se ligar ao seu trabalho ou área alvo.
Como desenvolver suas Mad Skills?
Depois de identificar potenciais Mad Skills, o desafio é desenvolvê-las e usá-las de forma estratégica. Aqui vão algumas orientações para tornar isso realidade:
- Consistência: Mad Skills raramente se manifestam em uma semana. Elas precisam de tempo, prática regular e maturação. Faça um plano de médio ou longo prazo para trabalhar nas suas habilidades.
- Aprendizagem cruzada: Aprofunde-se em suas áreas de interesse fazendo cursos, participando de grupos, lendo, assistindo etc. Busque diversidade e aprenda algo em um campo distinto do seu foco principal para expandir conexões inesperadas.
- Projetos interdisciplinares: Proponha iniciativas que cruzem a TI com sua Mad Skill, como criando uma aplicação cuja interface dialogue com fotografia, ou um bot que use storytelling. Essas pontes ajudam a mostrar concretamente com sua Mad Skill pode aportar valor.
- Compartilhe e demonstre: Publique projetos paralelos, portfólios, blogs, vídeos ou mini cases que envolvam sua Mad Skill. Isso gera visibilidade e evidencia que você já a pratica em contexto real, não só teoria.
- Aprenda a comunicar a relevância: Treine narrativas para conectar sua Mad Skill à realidade profissional. “Faço teatro” é menos interessante do que “faço teatro, o que me ajudou a desenvolver improviso em apresentações técnicas sob pressão”.
- Combine com Soft Skills e Hard Skills: Mad Skills não substituem as outras camadas, mas funcionam bem quando alinhadas. Por exemplo, domínio técnico + comunicação clara + improviso teatral = poder expressivo único em demonstrações técnicas.
- Feedback e ajuste: Peça que colegas e mentores digam como veem sua evolução, quais aspectos das suas Mad Skills mais saltam aos olhos. Aproveite para ajustar sua rota, talvez até mudando o foco de uma habilidade para outra.
Como destacar suas Mad Skills em entrevistas, currículos e processos seletivos
Até aqui, você já reconheceu e está desenvolvendo suas Mad Skills. Agora, é preciso fazer com que recrutadores e gestores notem e tenham interesse nisso.
1. No currículo e LinkedIn
Na seção dedicada a atividades extracurriculares e trabalhos voluntários, dedique espaço para destacar projetos ou conquistas relacionadas às suas Mad Skills.
Use frases que mostrem o impacto do que você fez, como “organizei apresentações artísticas para x pessoas”, “produzi uma série fotográfica com x acessos”, “lidero clube de voluntariado com n membros”.
É válido lembrar que nem toda vaga ou empresa vai valorizar ou achar relevante essa informação no seu currículo, então acrescente apenas quando for enviar para uma empresa que você sabe que tem uma cultura que valoriza esse tipo de atividade quando seleciona seus novos colaboradores
2. No momento da entrevista
Ao responder perguntas como “fale de um momento difícil que enfrentou”, conte experiências que envolvam a Mad Skill que você quer destacar. Construa sua narrativa de modo que ilustre como você se apoiou nela para resolver problemas, contribuir com o time ou inovar.
Quando o entrevistador pedir por seus “diferenciais”, exponha diretamente sua Mad Skill com conexão ao cargo. Por exemplo, “minha habilidade com fotografia me aprimorou o olhar estético e posso contribuir no design de interfaces e usabilidade”.
3. Em desafios práticos
Se houver simulações, desafios criativos ou testes de repertório, traga seu diferencial sugerindo analogias, aproveitando metáforas de sua Mad Skill e usando uma linguagem diversificada.
Às vezes, é no momento informal (pausa, conversa durante o café) que Mad Skills ganham visibilidade, então aproveite para mencionar projetos extracurriculares com naturalidade durante essas oportunidades.
4. Em portfólios e demonstrações
Se for possível, inclua no portfólio (ou GitHub, Behance etc.) projetos ou demonstrações que envolvam sua Mad Skill. Mesmo que não sejam diretamente técnicos, ajudam a ampliar sua marca pessoal.
Por exemplo, você fez um app que mistura dados com interface visual inspirada em fotografia, ou uma página pessoal onde você fala também de sua jornada artística e tecnológica.
Passo a passo para incluir Mad Skills no seu plano de carreira
Para sistematizar esse processo de identificar, desenvolver e destacar suas Mad Skills, você pode seguir essas quatro etapas baseadas em tudo o que você já aprendeu até aqui com este conteúdo.
1. Mapeamento e diagnóstico
- Faça a lista de interesses pessoais e analise quais revelam competência relevante.
- Peça feedback e relembre histórias.
- Selecione aquelas com maior conexão com seu objetivo profissional.
2. Desenvolvimento estruturado
- Estabeleça metas e cronograma de prática (semanal, mensal).
- Insira aprendizagem formal ou informal (cursos, oficinas).
- Envolva-se em projetos que cruzem esse talento com sua área.
3. Comunicação estratégica
- Prepare narrativas e traduza sua Mad Skill em linguagem profissional.
- Inclua no currículo, LinkedIn e portfólio.
- Use nos momentos de entrevista, dinâmicas ou networking.
4. Avaliação, ajustes e expansão
- Solicite feedback constantemente para mentores, recrutadores e pessoas próximas a você.
- Monitore impactos reais (quem notou, como foi usada etc.)
- Explore outras Mad Skills ou aprofunde as já escolhidas.
Cuidados e limites com as Mad Skills
Para que o conceito não seja romantizado ou mal interpretado, é importante que você também entenda alguns pontos importantes:
- Mad Skill não substitui competência técnica. Você ainda precisa ter domínio sólido das Hard Skills requeridas pela função.
- Não force hobbies que não existem. Falar que toca violão, se não for verdade, mas apenas para tentar demonstrar algumas características que você acha relevante, será percebido rapidamente e o resultado será uma falta de confiança em você e em seu trabalho.
- Não exagere tentando fazer um hobby parecer algo de extrema importância. Por mais relevante que ele possa ser no contexto profissional, ele continua sendo o que ele sempre foi: um hobby. O foco deve estar nas competências agregadas a esse hobby.
- Nem toda Mad Skill será e nem deverá ser usada em todas as oportunidades. Saiba avaliar quando ela é pertinente ao contexto da vaga ou empresa.
- Cuidado com a dispersão ao investir em muitas Mad Skills ao mesmo tempo, o que pode esvaziar o foco. Saber o que priorizar e o que deixar de lado também é uma habilidade importante no mundo profissional.
- Autenticidade importa muito. Mad Skills são valorizadas porque falam de algo real, genuíno, que diz respeito ao perfil da pessoa. Invista em uma Mad Skill apenas se ela faz sentido para quem você é e não porque você quer aparentar outra coisa diferente.
Conclusão
Se você sente que sua carreira está parada ou que não é devidamente reconhecido, as Mad Skills podem ser justamente o que faltava, desde que bem identificadas, trabalhadas com constância e comunicadas estrategicamente.
Ao combinar Hard Skills, Soft Skills e Mad Skills, você constrói um perfil completo, robusto e memorável, que as empresas desejam contratar e promover.
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