Nem sempre o conhecimento técnico é o que faz um profissional ser aprovado ou reprovado logo na primeira triagem de currículos.
Na verdade, a diferença costuma estar em algo até mais simples, logo, fácil de corrigir: a forma como o candidato se apresenta.
Durante processos seletivos, os profissionais de Recrutamento e Seleção, muitas vezes, precisam analisar centenas de currículos e, no meio de tantos documentos, é comum que profissionais talentosos fiquem pelo caminho por conta de pequenos deslizes de formatação, estrutura ou clareza, detalhes que fazem toda a diferença no dia a dia de um recrutador que precisa lidar com um volume tão grande de currículos.
A seguir, vamos analisar alguns exemplos de currículos reprovados e mostrar o que cada candidato poderia ter feito diferente. O objetivo não é julgar ninguém, mas mostrar o porquê de existirem padrões na hora de elaborar um currículo, ajudando o time de Recrutamento e Seleção do RH a entender rapidamente quem você é, o que você sabe fazer e onde você pode se encaixar.
Confira a seguir
Por que existe um padrão de currículo?
É muito comum, na hora de criar um currículo, querer “fugir do comum”, e essa ideia foi muito reforçada nos últimos anos, principalmente por profissionais de áreas mais criativas, que buscam se destacar ao apresentar um documento que seja completamente diferente dos demais.
Embora isso possa fazer sentido, para vagas de Designer ou outras áreas da comunicação, de um modo geral, isso pode mais atrapalhar do que ajudar. Para não vai ter erro, seu currículo deve seguir uma lógica e uma estrutura tradicional:
- Dados pessoais básicos: para que o recrutador possa entrar em contato com facilidade
- Objetivo profissional: para entender rapidamente o que você busca
- Resumo profissional (opcional): para contextualizar sua experiência e seu foco
- Formação acadêmica: para indicar seu nível de instrução e cursos relevantes
- Experiência profissional: o coração do currículo, onde você mostra seus resultados e conquistas
- Idiomas: importante em empresas globais ou com clientes internacionais
- Atividades complementares: cursos, certificações e projetos relevantes para a vaga
Esse formato não é um capricho do RH tentando limitar sua criatividade ao fazer um currículo. Ele existe porque os processos de triagem são rápidos e objetivos, em muitos casos, mediados por ferramentas de busca, softwares de recrutamento e filtros automáticos.
Quando seu currículo não segue esse padrão, ele se torna difícil e demorado de ler, de encontrar e até de rastrear. É o que acontece com alguns exemplos que vamos ver a seguir.
Não consigo ler nada

Não, não é a imagem que foi exportada errada ou você que está enxergando mal. Esse currículo está assim mesmo. E, acredite, isso é comum.
O problema aqui é algo técnico e pode te tornar praticamente invisível na etapa de triagem. Muitas pessoas, talvez por pressa ou falta de atenção, acabam enviando o currículo de qualquer jeito, sem se atentar a como esse documento será recebido pelo recrutador.
O profissional em questão é experiente, e poderia se destacar facilmente, mas o currículo enviado parece ter sido feito a partir de uma foto, que foi colocada em um documento Word e exportada em PDF. O resultado é um arquivo de baixa qualidade, difícil de ler, sem possibilidade de ser encontrado por ferramentas de busca do RH.
Softwares de triagem e banco de talentos (como Gupy, LinkedIn Recruiter, ATS ou outras ferramentas utilizadas por profissionais de recrutamento) não conseguem “ler” imagens. Isso significa que esse currículo, embora tenha as informações que mencionamos anteriormente, seja invisível para o RH já que nenhum filtro de busca encontraria suas palavras-chave (como “suporte”, “desenvolvimento” e “infra”).
No caso de empresas pequenas, que recebem poucos currículos, os recrutadores sentiriam no máximo um incômodo para ler as informações em um documento de baixa qualidade, mas em médias e grandes empresas, que recebem centenas de currículos toda semana, o uso dessas ferramentas de busca é necessário. O alto volume de documentos recebidos elimina possibilidade de o RH tirar esse tempo para analisar um currículo que não está sendo encontrado pelos filtros de busca.
Como melhorar a leitura do currículo:
Um currículo, principalmente para TI, precisa ser acessível a humanos e máquinas. Para isso você deve:
- Criar o documento em formato de texto (Word, Google Docs, Canva, Notion etc.), nunca como print ou fotografia.
- Exportar em PDF com qualidade e verificando se o texto consegue ser selecionado com o mouse, isso indica que os softwares de busca também conseguirão “ler” o texto com facilidade.
- Testar a legibilidade abrindo o arquivo em outro dispositivo, sempre que possível.
- Conferir se os links são clicáveis.
Para onde eu olho?

Lembra que nós dissemos que tentar ser criativo mais atrapalha do que ajuda? Pois bem, aqui está um exemplo disso.
Este candidato optou por um layout fora do modelo tradicional, com um padrão que divide as informações em diferentes blocos, algo comum em modelos prontos do Canva, mas a forma como as informações foram distribuídas não favoreceu nenhum pouco ao candidato.
Para começar, geralmente a foto do candidato não é necessária e pode ser deixada de lado na maioria dos casos, mas, aqui, o documento traz uma foto que é grande demais, ocupando quase um quarto da página. Além disso, a formatação está desalinhada, com blocos de teto em diferentes fontes e tamanhos, sem uma hierarquia visual clara. Como o profissional é um Desenvolvedor Web, se especializando em Front-End, que colocou como experiência profissional a construção de Landing Pages, isso é um detalhe que importa.
Mas, ainda que ele fosse candidato a uma área onde o cuidado com aspectos visuais é irrelevante, esse problema com as proporções nesse currículo prejudica o candidato. Isso porque, mesmo sendo um profissional com pouca experiência, ele poderia utilizar o grande espaço em branco para falar mais sobre si, ou então diminuir o bloco da apresentação e aumentar o da experiência para descrever o que fez nesses dois cargos que ocupou. Inclusive, não temos nem mesmo a informação de quando ele ocupou esses cargos.
No último bloco, ele junta as informações sobre um curso que fez e adiciona “referências”, que, no caso, são links para a página da escola onde fez esse curso. Assim como na seção de experiência, ele poderia ter aproveitado o espaço para falar mais sobre o curso, o que aprendeu, qual foi a duração, quando foi a conclusão etc. Da forma como foi colocado aqui, além de não trazer uma informação nova, uma vez que o curso mencionado aqui já tinha aparecido na parte de formação, as informações colocadas dessa maneira ficam confusas para os sistemas de busca do RH.
Como melhorar o preenchimento do currículo:
Se você é um profissional em início de carreira e não tem experiências, projetos ou cursos relevantes para apresentar, não tem problema fazer um currículo mais enxuto. Pelo contrário, é melhor do que tentar ocupar a folha toda e acabar gerando um documento confuso. Siga o modelo tradicional que apresentamos no início do conteúdo. Ainda que ele fique parecendo “vazio”, por não ter experiências para apresentar, ele trará uma imagem muito mais clara de quem você é e de qual estágio da sua trajetória profissional você está.
Lembre-se que fotos em currículo são opcionais e, na maioria dos casos, desnecessárias. Para vagas de TI, o foco está sempre nas habilidades e nos projetos, não na sua aparência. O ideal seria remover a foto e usar esse espaço para um resumo profissional breve, destacando resultados, aprendizados e objetivos.
Busque também padronizar fontes e margens, alinhando tudo para facilitar a leitura. Um recrutador precisa encontrar o que procura em segundos, e não pode gastar tempo tentando decifrar a estrutura de um currículo.
E o link?

Aqui, nós temos um exemplo curioso, mas que talvez você tenha cometido o mesmo erro sem nem perceber.
Olhando para o currículo e para as dicas que demos antes, parece que esse currículo segue o padrão esperado. Simples, objetivo, fácil de ler e de encontrar informações. E, para quem está no início da carreira, aqui está um ótimo exemplo de como você pode destacar suas habilidades mesmo tendo pouca ou nenhuma experiência profissional na área. Ele preenche seu currículo com alguns projetos recentes que desenvolveu.
O problema aqui está no detalhe. Embora ele traga uma descrição desses projetos, ele se esqueceu de algo importante: um link clicável para visualizar esses projetos. O recrutador lê, mas não consegue ver nada. Como ele deixa um link para o Github, esse problema pode ser contornado, mas isso exige que o recrutador acesse a página e procure por esses projetos específicos mencionados no currículo e, como dissemos anteriormente, o recrutador tem pouco tempo disponível.
Como melhorar os links no currículo:
Embora não dê pra afirmar que esse detalhe seria um fator de reprovação no processo seletivo, é importante prestar atenção nesses pontos quando estiver elaborando seu currículo.
Em currículos de desenvolvedores, é sempre melhor mostrar do que apenas listar ou descrever. Se há um portfólio que você quer apresentar aos recrutadores, ele deve estar visível e clicável.
Você não ganha pontos por deixar todos os links certos no seu currículo, mas você perde pontos ao não colocar, afinal, isso demonstra uma falta de atenção, que é prejudicial em áreas que exigem foco, como é o caso da TI.
O que esses currículos reprovados têm em comum?
Apesar das diferenças, os três currículos apresentados compartilham um mesmo desafio: eles dificultam a vida do recrutador.
Em processos de alta demanda, isso pode ser decisivo.
Entre dezenas ou até centenas de candidatos com perfis semelhantes, o RH naturalmente vai priorizar aquele currículo que é mais fácil de entender, de comparar e de registrar no sistema.
Em resumo, currículos reprovados costumam ter pelo menos um desses problemas:
- Excesso de design e ícones, o que prejudica a leitura e indexação
- Fotos grandes e desnecessárias, ocupando espaço útil e desviando o foco
- Fala de links clicáveis para que o recrutador acesse projetos ou entre em contato
- Formatação desalinhada ou ilegível, passando uma sensação de desorganização
- Arquivo em imagem (não pesquisável) inviabilizando a busca automática
- Falta de foco ou clareza no objetivo, dificultando o enquadramento na vaga
Esses pontos não desqualificam o profissional e nem sentenciam sua reprovação em todos os casos, mas o tornam mais difícil de ser encontrado e analisado. E, no contexto competitivo do mercado de TI, ser facilmente identificado é o primeiro passo para ser chamado para uma entrevista.
Como fazer um currículo de programador que se destaca (pelos motivos certos)
Agora que vimos o que não funciona, vale reforçar o que funciona. Afinal, seguir o padrão tradicional não é “engessamento”, mas estratégia.
- Comece pelo essencial: nome, contato, cidade (ou atuação remota), LinkedIn e GitHub. Nada além disso é necessário.
- Defina um objetivo claro: “Atuar como Desenvolvedor Front-End JR com foco em React” é melhor do que “Busco oportunidade para aprender e crescer”.
- Adicione um resumo profissional breve: em 3 a 4 linhas, contextualize sua trajetória e principais habilidades. Isso ajuda o recrutador a te “enquadrar” rapidamente.
- Liste suas experiências e projetos: mesmo sem empregos formais, projetos práticos contam muito. Mostre o que você fez, com quais tecnologias e qual resultado atingiu.
- Inclua formação e certificações: dê prioridade a cursos relevantes e atualizados. Se estiver cursando algo, deixe claro.
- Use palavras-chave técnicas: ferramentas de busca procuram termos como “ReactJS”, “Java”, “AWS” ou “Scrum”. Inclua-os de maneira natural nas descrições.
- Mantenha o design limpo: preto, branco e cinza são suficientes. O destaque deve vir da organização, não das cores.
- Teste o currículo: envie o documento para alguma ferramenta, como o ChatGPT para ver se ele é reconhecido. Se não for, o RH também não conseguirá.
O que o RH considera quando analisa o seu currículo
Recrutadores de TI não estão procurando apenas por códigos, mas por clareza de raciocínio, objetividade e cuidado com os detalhes, qualidades que também fazem parte do trabalho técnico.
Um currículo bem estruturado demonstra pensamento lógico, comunicação eficiente e capacidade de síntese. Essas são competências tão importantes quanto dominar uma linguagem ou framework.
Em outras palavras, um bom currículo não é um documento qualquer, é uma amostra do seu modo de pensar, organizar e resolver problemas.
Conclusão
Ao analisar esses exemplos de currículos reprovados, percebemos que a maior parte dos erros vem de boas intenções mal direcionadas, como o desejo de ser criativo, de mostrar personalidade, de se destacar.
Mas destacar-se não é o mesmo que chamar atenção visualmente. É ajudar o recrutador a entender, o mais rápido possível, o seu valor técnico e profissional.
Seguir um padrão de currículo tradicional não é se limitar, é falar a língua de quem vai te contratar.
E quando o RH tem pouco tempo e muitas opções, essa clareza é o que faz a diferença entre passar despercebido e ser chamado para a entrevista que pode mudar o rumo da sua carreira.
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